Livro: Inclusão Escolar
Autoras: Maria Teresa Eglér Mantoan e Rosângela Gavioli Prieto
Organizadora: Valéria Amorim Arantes
O título do livro me trouxe uma boa impressão, e folheando-o percebi que parece ser de fácil compreensão e leitura prazerosa. Confesso que o assunto não é dos meus favoritos, mas ao ler a contracapa me interessei pela reflexão sobre as práticas docentes no cotidiano escolar ao se tratar de inclusão.
Já tive contato com crianças especiais, e acompanhei trabalhos formidáveis realizados para a inclusão dessas em salas de aulas ‘comuns’, e acredito que quando o assunto é tratado com respeito e com maturidade, os possíveis obstáculos que poderão aparecer no meio do caminho poderão ser ultrapassados com estratégias brilhantes, que levam ao aprendizado geral.
Na apresentação do livro, a organizadora Valéria Amorim Arantes apresenta uma reflexão bastante válida sobre a importância do questionamento. É muito fácil aceitar “verdades” e “crenças” encontradas na nossa trajetória. O maior desafio de todo e qualquer tipo de profissional é questionar essas verdades, pontuar as diferenças, traze-las para o seu cotidiano e modifica-las quando preciso. É uma idéia que deve ser considerada não só na área da Pedagogia, ou da Inclusão Escolar.
A organizadora continua a apresentação explicitando os pontos principais que foram apontados por cada autora no decorrer do livro. Concordo plenamente quando a autora Maria Teresa Égler diz que ao tratarmos as crianças com igualdade, estaremos muito sujeito à exclusão. Acredito que, com deficiências ou não, cada pessoa é uma pessoa, cada criança apresenta uma particularidade e é nosso dever saber lidar com essas diferenças, ou pelo menos reconhecê-las. Exemplo disso é uma criança com dificuldade em Matemática. A ajuda será muito mais eficiente se o professor souber identificar qual a dificuldade e porque ela ocorre. Ou, como a própria autora cita, “combinar igualdade e diferenças no processo escolar é andar no fio da navalha!”. Mas é válido salientar que o reconhecimento e a valorização das diferenças não significam a mesma coisa que discriminação.
Para mim, foi de extrema importância uma citação das autoras: “Portanto, ser gente é correr sempre o risco de ser diferente”. Refletindo sobre a frase, sobre as constantes mudanças a que os seres humanos têm passado, e as diferentes necessidades que são criadas a partir de cada novidade, surge também as desigualdades. Entendendo que cada um é de uma maneira, cada um possui um tipo de necessidade, uma personalidade específica, entramos no aspecto do preconceito. Como eu sou capaz de julgar o próximo, se não há no mundo, ninguém igual a mim? Se ser diferente é um problema, quem é igual, e igual a o que?
As diferenças devem ser exploradas, para que cada um tenha melhor aproveitamento das coisas, e no caso específico de uma criança deficiente, para que ela se adapte no mundo das outras crianças, e as outras no mundo dela.
As autoras apontam que, ao se matricularem em determinada série, os alunos chegam diferentes, mas o objetivo do curso é que saiam iguais em questão de conhecimentos. Quando o padrão não é cumprido, acontece a repetência e a exclusão do aluno. Eu não concordo com um padrão estipulado de aluno, ‘todos devem sair daqui exatamente assim’, pois isso resulta em perda. Se todos se apropriarem dos mesmos conteúdos de maneiras iguais, a criatividade não terá espaço em lugar nenhum.
Ao apontarem os direitos educacionais, as autoras apontam também uma série de problemas encontrados na educação brasileira, tanto para deficientes quanto para alunos considerados normais: atendimento à demanda, estrutura das escolas, quantidade de vagas disponíveis, diferenças regionais, e etc. Como garantir um espaço apropriado a todos, seja em escolas Públicas ou Particulares, e em especial, ao aluno de inclusão? Sem a melhoria desses fatores, na poderá ser feito. Para que a inclusão escolar possa ocorrer de forma plena, são necessárias mudanças de concepções, práticas educativas e organizações de ensino regular, garantindo acessibilidade, aprendizagem e permanência dos alunos deficientes na escola, sem que suas dificuldades e diferenças se tornem limitações para sua aprendizagem.
Para Égler, é necessário criar uma nova compreensão sobre as frentes de trabalho educacional e suas possíveis articulações: a escola comum deve criar estratégias que de fato INCLUAM o aluno, não só coloquem-no dentro de uma sala de aula com outras crianças, e que seu atendimento seja especializado, muitas vezes com uma professora específica ao lado lhe ensinando algo completamente diferente dos outros. Acredito que o atendimento deve ser diferenciado sim, mas sem sair do padrão. As crianças podem não sair iguais das escolas, com todos os tipos de conhecimentos iguais dentro da cabeça, mas pelo menos o mesmo acesso à essas informações elas devem ter. É direito de cada um, sendo deficiente ou não. O objetivo principal da escola, seja ela comum ou especial, deve ser formar o sujeito globalmente, banindo qualquer tipo de exclusão.
Além de ambientes desqualificados para o ensino, Égler aponta que o despreparo profissional para atendimento dessas crianças nas escolas comuns é um ponto crucial na fuga da inclusão escolar. É o argumento mais viável para os pais que querem fugir da inclusão, mas, seja qual for a desculpa, seja qual for o motivo, a inclusão não deve mais ser ignorada. É tempo de valorizar e reconhecer as diferenças, e começar a transformar as belas palavras e os movimentos de ‘revolução’ em prática.
Gavioli apresenta duas propostas para a educação especial:
a) uma educação diferente e dirigida a um grupo de sujeitos específicos; e
b) conjunto de ações e serviços dirigidos a todos os sujeitos que deles necessitem, em contextos normalizados.
Fica claro que a escola de qualidade não deve apenas garantir permanência e acesso, mas sim aprendizagem, a qualquer sujeito e em qualquer situação.
Estou me surpreendendo com o livro, pois as possíveis dúvidas que surgem, vão sendo sanadas ao longo do texto.
Quanto às articulações possíveis e viáveis entre o Ensino Regular e o Especial que as autoras especificam, fica difícil não redefinir o processo brasileiro que se sustenta em expectativas tradicionais e fragmentadas. O papel do Estado, nesse contexto, deve ser revisto.
No diálogo apresentado na parte final do livro, as autoras fazem um debate a favor de uma escola justa e acolhedora frente às diferenças dos seus alunos. Sou da opinião que toda sociedade brasileira é responsável por lutar pela justiça de uma escola que favoreça a todos, superando os obstáculos que mantém todos os aspectos da exclusão social.
Por fim, a leitura do livro acrescentou muito à minha vida acadêmica, trouxe reflexões que eu considero muito proveitosas tanto profissionalmente como pessoalmente. A principal idéia que ficou, é que tudo já foi muito falado, muito discutido. O que nos resta fazer, como pais, professores, alunos, cidadãos, é lutar.